domingo, 9 de janeiro de 2011

Um Evangelista no Titanic!

Um Evangelista no Titanic!

Durante uma das maiores tragédias do século XX, um jovem pastor escocês experimenta evangelização mais dramática de sua vida...
por Aramis C. de Barros
Milhões de espectadores, nos cinco continentes, se emocionaram às lágrimas com a apaixonante história vivida por Leonardo Di Caprio e a formosa Kate Wislet, em Titanic, a inesquecível superprodução de James Cameron. O romance acontece tendo como palco a carreira do mais pomposo transatlântico da White Star Lines que, com suas colossais 46.320 toneladas de peso e 269 metros de comprimento, pasmou o mundo ao deslizar do estaleiro Harland & Wolf, em Belfast, Irlanda do Norte, em 31 de maio de 1911. Contrariando o presunçoso dito do Ministro do Comércio britânico, de que nem Deus poderia afundar tal embarcação, toda a tecnologia dessa obra-prima da engenharia naval, mostrou-se vã para poupar as 1528 vidas que pereceram nas águas geladas do Atlântico Norte durante sua colisão com um iceberg, em 14 de abril de 1912.
Contudo, a história desse gigante dos mares e seu debute fatídico não encerrou apenas momentos de romance, glamour e tragédia, como a mídia freqüentemente enfoca. Há nela também registros de intrépidos homens de Deus que, vendo próxima a irreversível destruição, empregaram todo vigor para levar o evangelho a quantos ainda podiam ouvi-los. Um deles, e talvez o mais notório de todos, foi o do jovem pastor britânico John Harper, cuja vida, infelizmente, também foi abreviada pela catástrofe.
John Harper nasceu em Houston, Renfrewshire, na Escócia, em 29 de maio de 1872, fruto de um devoto casal de crentes. A espiritualidade coerente e influenciadora de seus pais constrangeu-o a render-se a Cristo aos 13 anos. Aos 17 - nas horas vagas que tinha da sua dura lida num moinho - seu fervor e evangelístico se fazia ouvir pelas ruas do vilarejo, de onde clamava aos transeuntes que se arrependessem de seus pecados e se voltassem para Deus. Tanta devoção espiritual não passaria muito tempo despercebida. Após seis anos de evangelização itinerante e solitária pelas ruas de suas cidades, o jovem Harper foi convidado pelo Rev. E. A. Carter para integrar a Baptist Pioneer Mission, em Londres. Isso permitiu a Harper dedicar-se integralmente ao ministério eclesiástico, anseio maior de seu coração. Sua competência como líder espiritual ficou logo patente pelo desenvolvimento da primeira congregação que assumiu, em Glasgow, Escócia. A igreja, hoje conhecida como Harper Memorial Baptist Church, tinha 25 membros quando da chegada do jovem líder, em setembro de 1896. Após 13 anos de esforçado ministério, Harper deixou-a com mais de 500 integrantes!
Por essa época, John Harper casou-se e, embora tenha logo enviuvado, Deus consolou-o com a chegada de sua pequena filha Annie J. Harper, carinhosamente chamada Nana.
A notoriedade do pregador escocês espalhava-se rapidamente e já cruzara o Atlântico. Entre novembro de 1911 e janeiro de 1912, Harper dirigiu os encontros de avivamento promovidos pela Moody Bible Church de Chicago, Illinois, uma das mais renomadas igrejas evangélicas americanas. Tal foi o sucesso de seu púlpito ali que, ao regressar à Inglaterra, a mesma igreja convidou-o novamente para estar à frente de uma longa campanha evangelística a ser realizada dali a poucos meses.
Entrementes, no Reino Unido, O recente lançamento do RMS Titanic ocupava as primeiras páginas dos jornais e causava nos britânicos um orgulho indisfarçável. Nenhum outro transatlântico era, na época, tão veloz, seguro e glamouroso quanto o Titanic. Também contagiado pela novidade, Harper desistiu de embarcar no RMS Lusitânia (que também afundaria tragicamente três anos mais tarde, na I Guerra Mundial) e optou por regressar à América no Titanic.
Em Southampton, Inglaterra, em 10 de abril de 1912, Harper, em companhia de sua pequena Nana, e da Srta. Jessie Leitch, subiu, então, cuidadosamente as escadas que conduziam ao convés daquele gigante dos mares. Olhando ao redor, o jovem pastor suspirou impressionado - como de resto todos os demais - com a magnitude daquele que era o maior engenho móvel construído pelo homem até então, De fato, tudo naquela nave era definido em superlativos. Sua âncora, sozinha, pesava 15 toneladas; suas hélices juntas, 60 toneladas; o timão, mais de 100 kg. Havia nela caldeiras de dimensões tais que um ônibus caberia comodamente dentro delas. Suas quadras esportivas eram em tamanho oficial e, além delas, para a recreação dos ilustres passageiros, dispunha-se de ainda de uma grande piscina, jardins suspensos, banhos turcos, campo de golfe e de algumas invenções até então inéditas, como um cavalo e um camelo elétricos!
Porém, ao ingressar despreocupado nesse mundo onde tecnologia e requinte se confundiam, Harper nem imaginava que seguia sua saga para a eternidade e que, dali a pouco, entraria - por seu destemor e fidelidade ao evangelho - para a seleta galeria dos heróis do Titanic.
Nos dias que antecederam ao naufrágio, Harper aproveitava cada oportunidade para testemunhar de Cristo aos passageiros dos quais se aproximava. No crepúsculo da tarde do dia 14 de abril, Harper e Jessie Leitch encontravam-se no deck da segunda classe, desfrutando da viagem e admirando as belíssimas nuances do horizonte marítimo. Antes de se recolher para o camarote, o evangelista exclamou: "Será certamente uma linda manhã!" Sua boa expectativa infelizmente não se confirmou.
Às 11h40 quando soou o alarme pela colisão do navio com um gigantesco iceberg, poucos se deram conta de que começara ali um dos maiores desastres navais de toda história. Atento às medidas de segurança, Harper tomou consigo sua pequena Nana e, com um beijo caloroso, entregou-a a um dos tripulantes, certificando-se de que ela e Jessie embarcariam seguras no bote salva-vidas nº 11. Ele próprio, deixando a oportunidade certa de salvar-se, preferiu - a exemplo de seu Mestre - deitar sua vida em proveito de outros.
À medida em que o pânico e o caos progressivamente se apoderavam dos passageiros, Harper – agarrado à grade do deck clamava, para a estupefação de tantos: “deixem os botes para as mulheres, crianças e não-salvos!”. Enquanto todos se atropelavam buscando salvarem-se, Harper nadava de um lado para outro, nos corredores inundados, abordando com o evangelho a quantos encontrava. Num dado momento, despiu-se de seu colete salva-vidas e deu-o a um aflito. Perguntado porque fazia aquilo, o jovem pastor afirmou tranqüilo: “Não se preocupe, em breve eu partirei, não para as profundezas, mas para o alto!”. Após pregar a salvação aos apavorados que se apinhavam na popa do Titanic – já agudamente inclinado enquanto submergia – John Harper saltou para as águas gélidas do Atlântico Norte, onde centenas já se afogavam ou desfaleciam por hipotermia. Contudo, ainda restava um náufrago solitário a ser resgatado pelo intrépido pastor!
Flutuando num destroço, um outro cidadão escocês desesperava-se da própria vida, enquanto ouvia, com o passar do tempo, o silêncio mórbido das águas sufocar os gemidos de centenas de náufragos. Enquanto aguardava a almejada aproximação de algum bote salva-vidas, foi surpreendido pela voz trêmula de Harper que, quase congelado, poupara o seu último fôlego para evangelizá-lo. “Você é salvo?”, perguntou-lhe o pastor, que flutuava num destroço. O homem, cônscio de sua situação, replicou: “Não, não sou.” “Então creia no Senhor Jesus e será salvo, você e sua casa!”, disse Harper, com dificuldade, citando Atos 16.31. A maré afastou o pregador por um pouco, mas dali a instantes, tornou a trazê-lo ante seu compatriota. “Você é salvo?”, insistiu Harper, já balbuciando. “Não, não posso dizer que sou…”, confessou entristecido o homem abordado. Harper, num alento final, repetiu-lhe a passagem de Atos, para então desaparecer nas profundezas do Atlântico. Aquele cidadão escocês, que recebera Jesus de uma forma tão inusitada, foi um dos seis únicos passageiros resgatados das águas pelos botes do Titanic. Anos depois, quando os sobreviventes da tragédia se encontrarem em Hamilton, Canadá, esse mesmo homem, duplamente salvo o naufrágio, testemunhou sob lágrimas da fidelidade cristã de John Harper.
A devoção do jovem pastor continuou sendo alvo de comentários calorosos de vários sobreviventes resgatados, na manhã seguinte, pelo navio Carpathia.
É lamentável que temas relativos ao evangelho há muito tenham deixado de inspirar os milionários roteiros de Hollywood. Não fora assim, James Cameron teria reservado algum espaço, em sua obra-prima, para registrar, com as devidas honras, o triunfo deste que foi o grande herói cristão do Titanic.
Artigo retirado da revista Alcance nº3 – missão SGM

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